quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Você ja me ajudou bastante...obrigado

Gente ta GRANDÃOOO...espero que gostem,e desculpe pela demora =/


Mais tarde a noite, sozinha em meu quarto, deitada na minha cama pensei em como minha vida mudara em pouco mais de um ano.


Meus pais eram filhos de imigrantes brasileiros e eu há via nascido em Londres, então cresci aprendendo a falar as duas línguas, português e inglês.

Mas cerca de 1 ano atrás meus pais faleceram num acidente de carro e como não deixaram parentes conhecidos, fui parar num orfanato, onde havia ficado até o dia de hoje. Enfim cansada com as emoções daquele dia adormeci profundamente.


Na manhã seguinte desci para tomar o café da manhã e só encontrei meu pai na cozinha.


- Bom dia, acordou cedo. – ele disse


- Gosto de acordar cedo. – respondi e ele me olhou surpreso


- Verdade? Então finalmente alguém nessa família além de mim tem esse hábito. – disse brincalhão – Seus irmãos estão aproveitando as férias para dormir mais um pouco. – eu apenas sorri levemente


- O que vai querer? - disse abrindo a geladeira – Temos suco, leite, pão, queijo, geléia, cereal e alguns waffles.


- Suco, pão e queijo está ótimo pra mim.


Ele foi colocando tudo na mesa.


- Sirva-se a vontade, agora esta é sua casa também, o que inclui a geladeira. – e deu uma piscadela pra mim e sorri pra ele.


Gostei daquele novo pai, ele me deixava sempre muito a vontade.

Comemos os dois em silêncio, ele lendo o jornal e eu os quadrinhos e esse padrão que começou ali naquele dia durou muitos anos, nos tornamos companheiros matinais, pois adorávamos comer aproveitando o silêncio da manhã, desfrutando dos poucos momentos de tranqüilidade antes de toda família chegar fazendo barulho. Porque como logo percebi se tem uma coisa que os Pattinson faziam era falar, falar pelos cotovelos, verdadeiras metralhadoras verbais e eu me tornei a Pattinson silenciosa e meu pai adorou esse meu jeito.


- Qual a idade dos meus irmãos¿ - perguntei


- Julia tem 13, Char 12 e Rob 10. – respondeu automaticamente sem levantar a cabeça do jornal.


- Então agora sou a caçula? - retruquei depois de pensar durante um tempo, já que eu tinha 8 anos.


- Sim, vc é nossa nova caçulinha e isso vai ser muito bom pro Rob, sabe? - ele disse erguendo a cabeça um pouco – Rob já estava ficando muito mimado.

Enquanto acabava de comer fiquei ruminando aquela informação, então talvez fosse esse o motivo da recepção do Rob ter sido a única mais fria, talvez ele estivesse com ciúme de ter perdido sua posição de filho caçula e fiquei preocupada.


Depois de papai sair para trabalhar começaram as atividades normais da casa, eram férias de inverno e o frio era intenso, neve caia ou lá fora e passamos o dia brincando dentro de casa e vendo TV. De tarde mamãe preparou um delicioso chocolate quente acompanhado dos típicos biscoitinhos ingleses de gengibre.


- Quer jogar damas char? - perguntou Rob ainda de boca cheia.


- Ah, hoje não, to loca pra acabar de ler um livro. – ela resmungou


Rob se virou para Julia mas ela acabava de atender o telefone e conversava animada com uma amiga. Ele olhou rapidamente pra mim e depois baixou os olhos carrancudo.


Fiquei indecisa mas por fim resolvi ser corajosa.


- Sei jogar se você quiser brincar comigo. – ele me olhou supreso por um momento e depois sacudindo os ombros respondeu.


- Pode ser.


Sentamos no carpete da sala de pernas cruzadas de frente um pro outro com o tabuleiro entre nós.


Modéstia parte eu jogava bem, mas deixei ele ganhar a primeira partida, não achei sábio humilhar logo de cara alguém que poderia me achar uma possível rival de sua posição na família.


Seguiu-se uma sucessão de partidas e percebi que ele também era bom jogador. Em determinado momento quando me concentrava numa possível jogada, ergui os olhos de repente e peguei-o desprevenido me olhando intensamente, ele procurou disfaçar fechando a cara e baixando os olhos pra partida, mas em seguida disse baixinho.


- Gosto dos seus olhos.


- Meus olhos? - perguntei confusa.


- Sim, são diferentes.


- Como assim?


- Ah, todos aqui em casa tem olho claros...com excessão da char, então é bom ter algo diferente pra variar. – ele respondeu ficando vermelho.


- Acho tão comum, de onde vim todo mundo tem olho castanho. – ele ergueu o rosto e olhou pra mim com atenção.


- Arregala o olho. – franzi a testa, mas fiz o que ele pediu.


- Mas eles são claros, meio dourados, mais pra mel. – ele disse enquanto analisava, pisquei os olhos nervosa, não estava acostumada com um menino me olhando tão de perto, ainda mais aquele em especial.


Por fim resolvi olhar também nos olhos dele e mergulhei num mar azul. De repente ele fechou os olhos e disse firme:


- Cansei de jogar. – e começou a catar as peças do jogo, levantando-se em seguida.


Mamãe apareceu na porta.

- Rob, porque você não chama sua irmã pra ver TV no seu quarto com você? - ela sugeriu.


- Por que eu ia querer a juuh e a char lá? - ele respondeu.


- Estava me referindo a Marina, afinal vocês tem quase a mesma idade.


- Ah! – exclamou sem graça, se dando conta do furo.


- Não, mãe. – respondi apressada antes que ele respondesse – Acho que vou pro meu quarto escutar música agora. – reparei no alívio evidente no rosto de Rob quando eu disse aquilo.


- Então está bem. – mamãe disse enquanto ia pra cozinha.


Corri pro meu quarto passando por Rob, lá chegando entrei e fechei a porta respirando fundo.


O Natal foi uma ocasião maravilhosa e assustadora, maravilhosa porque seria o meu primeiro novamente em família e assustadora porque eu seria oficialmente apresentada a toda família, leia-se então avós, tios, primos e até um tio-avô completamente surdo.


Até hoje lembro do meu vestido, de veludo, num tom de vermelho escuro, quase vinho, mangas compridas e golas brancas de renda, lembro da Juuh e da Char arrumando meu cabelo, colocando uma fita da mesma cor do vestido.


Na hora H quem disse que eu saia do quarto? Nenhum argumento utilizado foi forte o suficiente para me fazer mudar de idéia.Travei completamente, eu estava apavorada demais imaginando ter que encarar um monte de adultos e crianças estranhas e respondendo perguntas inconvenientes. E se não gostassem de mim? Se me achassem diferente ou ate estranha?

Fiquei deitada na minha cama, deitada de costas pra porta, vendo a neve cair, ouvindo os convidados chegando la em baixo, enquanto lagrimas silenciosas rolavam por minha face.



Ouvi a porta do quarto se abrindo e se fechando, mas não me virei, escondi meu rosto no travesseiro.
- Você não vai descer mesmo? – disse uma voz baixa atrás de mim, me virei abruptamente, me sentando ao ouvir aquela voz, era ele, era Rob.
Não conseguia falar, só mexi com a cabeça de um lado para o outro em resposta, ele suspirou.
- Por que? – insistiu.
Olhei pra ele, pro rosto dele, procurando por algum sinal de malícia ou gozação, mas só encontrei calma e sinceridade.
- Estou com medo. – disse por fim.
Ele parou de me olhar e caminhou em direção a janela, ficando de costas pra mim.
- As vezes eu também tenho medo.- ele falou.
- Verdade? – perguntei fungando o nariz.
- Sim, gente me olhando sempre me deixa nervoso. – ficamos um momento em silêncio, até que ele se virou pra mim de novo – Você quer saber o que eu faço quando me sinto assim?
- Sim. – respondi baixinho.
Ele caminhou e sentou-se na beirada da minha cama.
- Eu conto mas você tem que prometer nunca dizer isso pra ninguém, promete? - Prometo. – disse aguardando.

- Certo, então esse vai ser o nosso segredo. – ele parecia indeciso de como começar - Quando estou assim nervoso ou com medo de enfrentar um monte de gente estranha, eu fecho os meus olhos e me imagino num palco, como se fosse um teatro e estou ali para atuar, para representar uma cena ou para dizer um texto e não tem ninguém na platéia, então posso ser o que quiser naquele momento, posso dizer o que eu quiser porque sei tenho um lugar onde estou protegido, onde não tem ninguém para me julgar. Então quando imagino isso fico mais calmo e faço o que tenho de fazer. Você quer tentar?
- O que?
- Fechar os olhos e fazer de conta que está num palco, pode te ajudar.
Olhei pra ele indecisa e ele sorriu, um sorriso tão lindo e tão doce que me desarmou completamente, foi a primeira vez que ele sorriu pra mim e foi aquilo que fez decidir, me sentei mais reta na cama, fechei os olhos suspirando e procurei imaginar o que ele tinha dito, aos poucos senti que relaxava, no final estava me sentindo até um pouco sonolenta. Abri os olhos ao sentir uma mão no meu ombro.
- Funcionou? – ele perguntou tranqüilo e agora era eu que sorria pra ele.
- Sim, - respondi
- Então... Você desce comigo? Prometo que fico do seu lado o tempo todo. – ao ouvir aquilo senti meu coração batendo mais forte.
- O tempo todo, promete mesmo? – eu não conseguia acreditar.
- Prometo. – ele se levantou da cama e estendeu a mão pra mim - Vamos? – olhei pra aquela mão e estendi a minha, ele agarrou com firmeza, me puchando.
- Essa é minha cor favorita. – ele disse apontando pro meu vestido e senti que corava.
- Sabe, acho que você poderia ser um ator. – disse quando me pus de pé.
- Ator? – ele disse surpreso - Por que diz isso?
- Não sei, mas quando você disse que se imagina num palco ou num teatro, tive essa impressão. Acho que você leva jeito, pense nisso.
- Hum, quem sabe? – ele disse sacudindo os ombros. Ao sair do quarto com ele ao meu lado, só não tive coragem de revelar uma coisa, quando fechei os olhos e vizualizei o palco, eu não me imaginei sozinha, me imaginei com ele....

Um comentário:

  1. "Ao sair do quarto com ele ao meu lado, só não tive coragem de revelar uma coisa, quando fechei os olhos e vizualizei o palco, eu não me imaginei sozinha, me imaginei com ele...."

    de tudo o que aconteceu aqui, isto foi realmente o que mais gostei de ler. *-*

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